quinta-feira, 4 de junho de 2009

Razão - Idealista ou Empírica!

RESUMO

Português:

Analise e comparação de elementos da “Teoria do Conhecimento” apresentados nas obras dos filósofos René Descartes e David Hume.

Palavras-chave: Descartes, Hume, conhecimento, razão, sensação.

ABSTRACT

English:

Analysis and comparison of elements contained in the Theory of Knowledge as presented in the writings of philosophers René Descartes and David Hume.

Keywords: Descartes, Hume, knowledge, reason, sensory fact.

SUMÁRIO

1. Introdução:

2. Racionalismo a priori (idealista). 6

3. Racionalismo a posteriori (empírico). 7

4. Conclusão: 8

Referências Bibliográficas: 9

1. Introdução:

O início do período moderno, a separação entre o sagrado e o secular, é marcado pelo pensamento do filósofo francês René Descartes[1] que, ao apresentar sua teoria do conhecimento centrado na capacidade humana de raciocinar e, como ele afirma no Discurso do Método por causa “da certeza e da evidência de suas razões”, alcançar logicamente (matematicamente) às respostas necessárias para compreender o mundo.

David Hume[2] separado de Descartes por mais de um século lançou uma teoria contrastante à do seu precursor. Para ele a razão, fonte do conhecimento humano, está limitada à experiência humana, ou seja, o homem é capaz de compreender somente aquilo se evidência empiricamente - “quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou grandiosos que sejam, sempre verificamos que eles se descompõem em ideias simples copiadas de alguma sensação ou sentimento precedente” [3].

O presente texto pretende uma comparação e análise de elementos das teorias desses dois filósofos que buscaram as fontes do conhecimento humano sem recorrer à ação divina e ao mistério, tão presentes na Filosofia Antiga e Medieval, para explicar os limites do mesmo.

2. Racionalismo a priori (idealista).

René Descartes, considerado o pai do racionalismo, rompe com o pensamento medieval e apresenta sua teoria do conhecimento e desenvolve seu Método[4] baseado exclusivamente na capacidade racional do ser humano.

As regras básicas do método são:

1. Evidência - Só pode ser aceito como verdadeiro aquilo que é tão claro que não pode ser duvidado. Para chegar à definição de verdade tudo tem que ser submetido à dúvida, Descartes não considera o processo uma imitação dos céticos[5] “que duvidam só por duvidar e fingem ser sempre indecisos” [6], é dúvida radical e construtivo com o propósito de eliminar o falso e o engano (o gênio maligno) para revelar apenas a verdade .

2. Tudo deve ser sujeito à análise, ou seja, dividido em partes para elucidar os fatos e solucionar os problemas.

3. Síntese - O pensamento deve ser ordenado e “iniciando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer” [7] até chegar ao conhecimento mais complexo.

4. A última regra é a enumeração, uma revisão racional, repetida várias vezes se necessário for, até tiver “a certeza de nada omitir” [8].

Ao aplicar o método e sujeitar tudo à dúvida, o ponto culminante para Descartes é o entendimento que a capacidade de pensar (raciocinar) é a única prova confiável de sua própria existência (cogito, ergo sum), o corpo sendo meramente uma extensão mecânica, “Descartes acentua o ‘sou’. O fato de pensar me permite concluir que sou um ser, uma substância (res cogitans), uma realidade que pensa.” [9]

logo em seguida, percebi que, ao mesmo tempo que eu queria pensar que fosse alguma coisa. E, ao notar que esta verdade: eu penso, logo existo, era tão sólida e tão correta que [...] julguei que podia considerá-la, sem escrúpulo algum, o primeiro princípio da filosofia que eu procurava.[10]

3. Racionalismo a posteriori (empírico).

O Empirismo vincula a possibilidade do conhecimento exclusivamente à experiência rejeitando qualquer conceito de conhecimento a priori ou adquirido unicamente pelo uso da razão. Nesse contexto entende-se a experiência como “os conteúdos sensoriais da consciência ou como qualquer coisa que se exprime numa determinada classe designada de afirmações cuja verdade possa ser verificada pelo uso dos sentidos” (BLACKBURN – p.115).

Na época da Revolução Inglesa no século XVII, David Hume, “o primeiro empirista moderno a rejeitar a ajuda tanto dos princípios a priori do raciocínio como de qualquer ideologia que garanta a harmonia entre as nossas percepções e o mundo” (BLACKBURN – p188), enunciou a base de sua teoria de conhecimento.

quando analisamos nossos pensamentos ou ideias, por mais complexos ou grandiosos que sejam, sempre verificamos que eles se descompõem em ideias simples copiadas de alguma sensação ou sentimento precedente[11].

Hume, muitas vezes considerado entre os céticos, afirma que o homem é incapaz de ultrapassar a experiência do momento e conhecer a Causa, apresenta sua teoria de conhecimento dentro os seguintes parâmetros:

1. A razão é arbitraria “se guiado somente pela razão, sem a experiência, a relação de causa e efeito se torna arbitraria, sem evidência” (UMESP – p44)

2. Os fundamentos do conhecimento são impressões e ideias. A impressão é a percepção que traz a convicção de uma realidade objetiva, enquanto a ideia, derivada da impressão e mais fraco. São ligadas pela inclinação de recordar uma a outra permitindo a ligação entre a impressão atual e impressões obtidas no passado através da lei de associação de ideias.

3. As impressões sucedem uma à outra com regularidade, constituindo o hábito que cria a expectativa de repetição, “o habito é o fundamento que permite a operacionalização da experiência” (UMESP p44).

4. A certeza absoluta é admitida em apenas duas instâncias, em fatos, ou seja, coisas que pela experiência sabemos que não podem ser concebidas de outra maneira – Ex. 2 + 2 = 4 e, o relacionamento entre as ideias, que é tão constante quanto às próprias ideias.

4. Conclusão:

Embora, tanto Descartes como Hume, considere a mente como sede do conhecimento, os dois filósofos modernos diferem radicalmente no que diz respeito às regras do jogo para alcançá-lo. O pensamento cartesiano é objetivo, analítico e externo, enquanto o empirismo é subjetivo e introspectivo.

Descartes considera a evidência a própria verdade racional enquanto Hume a percebe como a experiência derivada da associação de ideias pela semelhança, pelo conjunto das ideias ou pelo causa e efeito. Hume limita o conhecimento à capacidade do homem de experimentar o mundo através de sensações, ele demonstra que um homem cego é incapaz de ter noção de cor, e afirma que até as coisas mais complexas são resultado de alguma sensação. Descartes afirma que a análise e a enumeração detalhada proporcionam o homem a oportunidade de conhecer aquilo que nunca experimentou sensorialmente e de criar novas ideias.

A diferença entre Descartes (racionalista) e Hume (empirista) que se destaca é a conceituação da causalidade. Enquanto para Descartes “a causalidade é uma relação real e necessária, apreensível pela faculdade racional humana” [12] para Hume é apenas “uma sucessão de fatos no tempo, já que a relação de causa e efeito entre fenômenos não pode ser comprovada, mas apenas consagrada pelo costume” [13] e, portanto, inapreensível.


Referências Bibliográficas
:

1. ABBAGNANO, Nicola - Dicionário de Filosofia – Editora Martins Fontes – 5ª ed. 2007.

2. AUDI, Robert - Dicionário de Filosofia de Cambridge – PAULUS 2006 - 2ª edição.

3. BARAQUIN e LAFFITTE - Dicionário Universitário dos Filósofos – 1ª ed. 2007 – Editora Martins Fontes.

4. BLACKBURN, Simon - Dicionário Oxford de Filosofia – Tradução da 1ª edição inglesa - Oxford University Press 1994 – Editor – JZE - ed. brasileira 1997.

5. CHAUÍ, Marilena Convite à Filosofia –Editora Ática -13ª ed. 2006.

6. DESCARTES, René – Discurso do Método – Os Pensadores – São Paulo – Editora Nova Cultura Ltda. 1999.

7. HUME, David – Ensaio Sobre o Entendimento Humano – Versão Eletrônico – Tradução Anoar, Alex – Créditos de digitalização: Membros do grupo de discussão Acrópolis (Filosofia) – disponível em http://www.dominiopublico.gov.br/pesquisa/DetalheObraForm.do?select_action=&co_obra=2258 – Acesso em 14/04/2009.

8. PANSARELLI, Daniel et. al – Metafísica, Epistemologia e Linguagem – São Bernardo do Campo, UMESP – 2009.

9. Enciclopédia de Filosofia – disponível em http://encfil.goldeye.info/causalidade.htm. Acesso em 19/04/2009

10. Mundo dos Filósofos – disponível em: http://www.mundodosfilosofos.com.br. Acesso em 19/04/2009



[1] (1596-1650) Filho de um conselheiro do parlamento da Bretanha, nasceu em La Haye, Tourraine. René Descartes foi criado pela avó materna devido à morte de sua mãe quando ainda era criança. Aos 10 anos de idade foi estudar no Colégio Jesuíta de La Fleche, um dos mais célebres colégios da época. Encanto-se com a matemática e decepcionou-se com o ensino das demais matérias incluindo a Filosofia. Licenciado em Direto (1616) iniciou uma carreira militar, através de uma série de sonhos descobre sua vocação intelectual e o projeto de desenvolver uma nova ciência fundada na razão. Terminado a carreira militar após passar tempo em Paris , instala se na Holanda em 1628 onde permaneceu durante 20 anos. Em 1648 retorna à França e logo em seguida para a Holanda onde enfrenta os defensores do Calvinismo. Aceita posição como tutor da Rainha Cristina da Suécia e morre em Estocolmo vitima de uma pneumonia. Obras principais – Discurso do Método (1637) Meditações (1641) Princípios da Filosofia (1644), As Paixões da Alma (1649).

[2] (1711-1776). Nasceu e completou seus estudos em Edimburgo, Escócia. Preferiu uma carreira em Letras e Filosofia a ser advogado. Hume, como Descartes no século anterior, estuda no colégio de La Fleche e lá redige seu Tratado da Natureza Humana, publicado em Londres em 1739. Ateu é negado uma cátedra de filosofia em Glasgow devido à hostilidade do clero, mas, aceita ser o conservador de uma biblioteca universitária onde continua seus estudos e produção. Após um período como diplomata em Paris retorna à Escócia onde morre em agosto de 1776. Obras incluem Tratado da Natureza Humana (1739), Investigação sobre o entendimento humano (1748) e Diálogos sobre a religião natural (1779).

[3] Citação extraída da apresentação da tele aula do Prof. Frederico Pieper, dia 14.04.2009 – UMESP Filosofia EAD (HUME – Investigações sobre o entendimento humano. seção I, §6)

[4] Método Cartesiano

[5] Os céticos afirmam que o conhecimento é impossível

[6] Os Pensadores – Descartes – p.58

[7] Idem – p. 49

[8] Idem. p. 50

[9] Prof Fred Pieper – UMESP p.38

[10] Os Pensadores – Descartes – p.62

[11] Hume, David - Investigações Sobre o Entendimento Humano. Seção 1 §6

[12] Enciclopédia de Filosofia – Causalidade §5

[13] idem.